outubro 25, 2008

Sem título

(publicado no Des1biga #15, à disposição numa FML perto de si - espero que não tão perto quanto isso...)

Andas por aí vagando ao relento
andas em qualquer lado sem contentamento,
fuçando o manjar que te corrói o estômago de ausência
raspando o chão sem qualquer vergonha
porque só te é dada a amar a decadência.
Agracias o desprezo por não te perturbar as noites
e foges da perseguição cruel que te amachuca os dias.
Andas sozinho nas ruas que ninguém quer
Dormindo nos sítios onde calhar
Comendo o que a todos lhes sobrar
Sem te sobrar dignidade que possas vender
Porque até a pele do corpo já rifaste
Até as unhas dos pés penhoraste
Para te embriagares todo o dia
em álcool podre e desordeiro
para esqueceres o mundo que te esqueceu primeiro.
Fazes amor com qualquer vadia
sem pudor, sem qualquer mania
Fumas os arbustos em mortalhas de lixo
e depois de tudo isto,
ainda te ris de todos,
porque nenhum dos outros sabe que existes
Porque todos pensam que o mundo é só deles.
Ah, que estupidez a da burguesia!
que mesmo se quisesse nada disto faria
que nos armários guardam o desconhecimento do mundo
Porque no fundo são podres como os restos que comes.
Mas tu sabes tão bem enganá-los,
tu sabes tão bem como usá-los,
que agora nem a tua mãe te trairia,
porque até ludibriar-lhe o útero poderias.
És o auge perfeito do egoísmo,
obra-prima da sociedade de consumo,
depósito máximo dos excedentes de produção.
Quando no fim de contas és apenas um cão.

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