novembro 30, 2008

No peito trazes uma canção
Que me vem à memória quando tu não estás
E com meias de lã me vem de mansinho
Uma paz no coração
Uma sede no colo.
Um aperto de te ter,
um ardor de me dar
À canção que trazes
no teu corpo masculino
Enquanto toca baixinho
o teu peito de menino.
29.08.08

outubro 25, 2008

Sem título

(publicado no Des1biga #15, à disposição numa FML perto de si - espero que não tão perto quanto isso...)

Andas por aí vagando ao relento
andas em qualquer lado sem contentamento,
fuçando o manjar que te corrói o estômago de ausência
raspando o chão sem qualquer vergonha
porque só te é dada a amar a decadência.
Agracias o desprezo por não te perturbar as noites
e foges da perseguição cruel que te amachuca os dias.
Andas sozinho nas ruas que ninguém quer
Dormindo nos sítios onde calhar
Comendo o que a todos lhes sobrar
Sem te sobrar dignidade que possas vender
Porque até a pele do corpo já rifaste
Até as unhas dos pés penhoraste
Para te embriagares todo o dia
em álcool podre e desordeiro
para esqueceres o mundo que te esqueceu primeiro.
Fazes amor com qualquer vadia
sem pudor, sem qualquer mania
Fumas os arbustos em mortalhas de lixo
e depois de tudo isto,
ainda te ris de todos,
porque nenhum dos outros sabe que existes
Porque todos pensam que o mundo é só deles.
Ah, que estupidez a da burguesia!
que mesmo se quisesse nada disto faria
que nos armários guardam o desconhecimento do mundo
Porque no fundo são podres como os restos que comes.
Mas tu sabes tão bem enganá-los,
tu sabes tão bem como usá-los,
que agora nem a tua mãe te trairia,
porque até ludibriar-lhe o útero poderias.
És o auge perfeito do egoísmo,
obra-prima da sociedade de consumo,
depósito máximo dos excedentes de produção.
Quando no fim de contas és apenas um cão.

outubro 19, 2008

Chico

Chico Buarque - João e Maria


Há precisamente 3 dias que não tenho ouvidos para outra coisa.

outubro 08, 2008

Ao viajante desconhecido

Em silêncio falo-te de mim,
ó viajante desconhecido
Por em ti me poder perder
sem pudores
Por o silêncio não me poder responder
E em paz me poderes construir
Nas palavras que em silêncio te dou.

Sou o nada que falta nas palavras que digo
Sou o nada
que castigo nas palavras que escondo
Mas sou o tudo
que te apaixona no monólogo que te dedico
Que nas horas sem fim
Sou eu que me escolho.

És o capricho máximo da minha alma
Libertinagem promíscua do meu pensamento
És o alento único da solidão.
És o nada
que em silêncio me contenta
És o tudo
que no nada me sustenta.
E no escuro te digo todas as noites
Que voltes depressa no dia seguinte.
29.08.08

maio 16, 2008

maio 09, 2008

fevereiro 08, 2008

- estudar faz mal às pessoas -

Numa noite de luar

Numa noite de luar,
Roubaste o meu coração.
Num dia de sol de abrasar,
Deixei-te de cuecas na mão.

Eu, de alma despedaçada,
Para que ma pudesse doer
Tu, de pilinha arregaçada,
Para toda a gente ver.



(amanhã há maaais...)

fevereiro 06, 2008

Emético de Consumo Imediato

Eles só vão ser felizes quando se instituir o Dia da Caganeira, quando só se puder cagar de facto e em massa nesse dia, no qual as pessoas vão ser coagidas a cagar mais do que a sua vontade momentânea e fisiológica. Os obstipados serão excluidos socialmente, com direito a etiqueta omologada por lei contra a entrada de tais fulanos em restaurantes e demais espaços fechados, onde vários grupos se empanturrarão prazeirosamente com feijoada e entupirão as sanitas. As montras vão estar repletas de papel higiénico de todos os tamanhos, texturas e cores, ursinhos de peluche mal cheirosos e de cor de caca e nas sex-shops vão vender-se todo o tipo de laxantes. Os obstipados terão medo. E vergonha. Alguns vão fazer nesse preciso dia aquilo que nunca tiveram coragem de fazer e outros vão sentir-se obrigados e vão recorrer a todo o tipo de mezinhas e artifícios para fazer aquilo que excede todas as capacidades do seu sistema digestivo, que continuam a achar nojento ou que simplesmente não lhes apetece, com medo das represálias (que se repercutirão no resto dos dias do ano e no dia da Caganeira seguinte). Uns só vão arranjar umas horinhas para cagar nesse dia. Outros fingirão caganeiras. No resto do ano, cagar será pura e simplesmente ignorado e tido como um mau comportamento social, alvo inclusivé de chacota (é que cheira mesmo mal!), como necessidade básica do ser humano que é.

FODAM MAS É TODOS OS DIAS ANTES QUE DEIXEM DE PODER CAGAR

Ou

PÁRE A DIARREIRA, ANTES QUE ELA NOS PÁRE A NÓS


(Aviso meio tardio: este artigo trata-se de pura diarreia mental)

janeiro 15, 2008

O Monstrengo

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»


Fernando Pessoa in Mensagem








Porque é o meu preferido.

janeiro 08, 2008